quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Inscrição em pedra é projeto da Torre de Babel



A forma original da estela

Especialistas que analisaram uma inscrição de 2.600 anos dizem que ela é uma espécie de placa comemorativa da inauguração da Torre de Babel, com detalhes do projeto celebrizado pela Bíblia.


A conclusão está num novo livro de título indigesto, “Cuneiform Royal Inscriptions and Related Texts in the Schoyen Collection” (“Inscrições Reais em Cuneiforme e Textos Relacionados da Coleção Schoyen”).


Martin Schoyen é um empresário norueguês, dono de uma coleção de antiguidades que inclui, entre outras coisas, inscrições em cuneiforme (difícil sistema de escrita do antigo Oriente Médio) feitas a mando dos reis da Mesopotâmia, no atual Iraque.



Entre essas inscrições está a estela –essencialmente um poste de pedra– erigida quando Nabucodonosor 2º governava a Babilônia, entre 605 a.C. e 562 a.C. Coberta com textos e desenhos, a estela relata a construção de uma obra que, se fosse egípcia, teria porte faraônico.


TERRA E CÉU
Seu nome era Etemenanki. Em sumério, idioma que já era arcaico nos tempos de Nabucodonosor 2º, a palavra significa “templo das fundações da terra e do céu”. E o rei da Babilônia carrega nas tintas propagandísticas ao descrever como construiu a estrutura, cuja altura, segundo relatos posteriores, chegava a mais de 90 m.


“[Para construí-la] mobilizei todos em todo lugar, cada um dos governantes que alcançaram a grandeza entre todos os povos do mundo. Preenchi a base para fazer um terraço elevado. As estruturas construí com betume e tijolo. Completei-a erguendo seu topo até o céu, fazendo-a brilhar como o Sol”, diz a inscrição na pedra.


O templo era dedicado ao deus Marduk, patrono da dinastia de Nabucodonosor.


ZIGURATE
A estrutura, que lembra um pouco uma pirâmide com degraus, encaixa-se na categoria dos zigurates, comum na arquitetura dos templos da antiga Mesopotâmia.


A equipe liderada por Andrew George, especialista em babilônio do University College de Londres, publicou pela primeira vez a descrição detalhada da estela no livro.


Para eles, a probabilidade de que o zigurate gigante tenha sido a inspiração para o relato bíblico da Torre de Babel é considerável. Para começar, já se sabia que “Babel” (“A Porta do Deus”) é apenas o nome dado pelos antigos hebreus à Babilônia.


Em segundo lugar, foi Nabucodonosor 2º o responsável por destruir o último reino israelita independente, o de Judá, arrasando o templo de Jerusalém e deportando milhares de pessoas da terra de Israel para a Babilônia no ano 586 a.C.


Os deportados israelitas, portanto, teriam tido a chance de ver de perto a maior das obras de seu opressor, justamente no período em que, segundo a maior parte dos estudiosos atuais, o texto da Bíblia estava sendo editado e consolidado no exílio.


A inspiração para a história do rei que tentou construir uma torre até o céu, portanto, teria vindo nessa época.


Se a hipótese de George e seus colegas estiver correta, a imagem na estela é a mais antiga representação da Torre de Babel, que acabaria inspirando inúmeros artistas da Idade Média até hoje. Uma identificação definitiva, contudo, é difícil de provar sem evidências mais diretas.


Reinaldo José Lopes - Folha.com