segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A morte do cinegrafista da Band


Gelson Domingos da Silva é o que está de boné atrás do policial

ATÉ O FIM


De tempos em tempos a notícia sobre a morte de um desconhecido comove multidões. Há poucos dias, quando da morte do já lendário Steve Jobs, acompanhamos nas redes sociais uma enxurrada de mensagens de pesar por sua perda. Vimos o mesmo com Amy Winehouse, Michael Jackson e tantas outras celebridades distantes. Há também os que celebram a morte alheia, como nas capturas recentes de Muammar al-Gaddafi e do quase mito Osama bin Laden.


Particularmente sempre vi essa euforia em torno da morte de gente distante com desconfiança. Ontem, no entanto, fui surpreendido por um sentimento profundo, desencadeado pela morte de alguém que nunca tinha ouvido falar. Desde a manhã de domingo, o nome do saudoso desconhecido toma conta do noticiário brasileiro: Gelson Domingos da Silva, 46 anos, pai, avô e repórter.


Cinegrafista, premiado recentemente por seu trabalho, muito experiente, Gelson trabalhava há poucos meses na Rede Bandeirantes, depois de ter servido também outras grandes redes. Ontem, ainda na madrugada, saiu de casa para realizar seu ofício. Alvejado por um tiro de fuzil, morreu, em ação.


Sindicatos oportunistas se esforçam para creditar a culpa de mais uma fatalidade às empresas de comunicação e à polícia. Colocando de lado as questões políticas e ideológicas resta uma pergunta: O que faz alguém ir tão longe, literalmente até o fim pelo trabalho?


Falta de proteção adequada, sensacionalismo alucinado? Nada disso explica a coragem para – armado apenas de seu equipamento de trabalho, a câmera – encarar a mira de um fuzil posicionado poucos metros adiante.


A única explicação possível é também a mais simples: Gelson amava o que fazia e ía até o fim naquilo que amava.


É possível e muito provável que, tanto no SBT, quanto na Record e também na Band, atuando ao lado do jornalista e parceiro Ernani Alves, tenha enfrentado alguns problemas de trabalho. A simplicidade da família também indica que toda aquela coragem não podia estar baseada no salário que ganhava. A câmera, companheira que empunhou até o fim, também não era o melhor equipamento possível. Nada disso, todavia, lhe desviou a atenção. Nada lhe tirou a coragem e o foco no objetivo maior que era informar.


Ontem, 6 de novembro de 2011, Gelson Domingos da Silva descansou. Sua esposa, seus 3 filhos, 2 netos e todos nós cidadãos e jornalistas podemos reverenciar o exemplo de alguém que em busca da verdade, foi até o fim.

Veja o vídeo do momento em que Gelson é atingido:




Lisandro Winckler Staut
Gerência de Jornalismo