terça-feira, 26 de julho de 2011

O que ainda nos impressiona?

 

 

“Antigamente”, há poucos anos, uma chacina injustificável da Noruega ou a morte de uma cantora como Amy Winehouse levariam inevitavelmente a duas perguntas: o que está acontecendo nesse mundo e até quando isso vai ocorrer? Talvez essas duas questões ainda encontrem eco na mente de alguns afeitos à capacidade de se sensibilizar, mas rapidamente perdem força a cada ano que passa. E essas indagações não perdem força porque estão sendo respondidas pelas pessoas. Diminuem seu impacto e sua influência simplesmente porque outra pergunta está ganhando espaço: o que ainda nos impressiona?
A voz popular insiste que o grande motivo de fatos antes estarrecedores e hoje considerados banais não causarem um efeito de maior comoção à opinião geral é que a mídia tratou de torná-los corriqueiros. Verdade que TV, rádio, jornais e sites fazem com que a morte prematura de uma jovem de 27 anos como Amy pareça apenas mais um programa interessante na TV a cabo. Ou, quem sabe, no caso da web, mais um tweet candidato ao Trend Topics. Obviamente dezenas de documentários e programas especiais de entrevistas vão abordar os dois temas por muito tempo. A Noruega, antes desconhecida para tantos, será explorada em toda a sua amplidão, principalmente no que diz respeito ao comportamento dos cidadãos que lá vivem. A vida do atirador, seu passado, sua infância, seus parentes, seus amigos, seus contatos, tudo será detalhadamente escrutinado até o ponto máximo possível. E o supra-sumo disso tudo estará patente aos olhos e ouvidos de quem quiser consumir isso por dias, semanas, meses e talvez até anos.
Eu concordo que a mídia contribui para tornar as tragédias menos trágicas e mais palatáveis. É um processo que vem há muito tempo e parece se tornar mais comum anualmente. O nível de velocidade com que os dados e informações chegam ao conhecimento das pessoas, ainda que de forma absolutamente superficial, não deixa dúvidas. Vivemos no tempo do quanto mais melhor, não importa exatamente o que se transmita, retransmita e transmita de novo.
Mas essa explicação a partir da mídia não esclarece completamente a respeito dos últimos assuntos mundiais, Amy Winehouse e o atirador da Noruega. Principalmente não me ajuda muito a responder a nova pergunta da sociedade: o que ainda nos impressiona?
Vamos inverter a pergunta e fazê-la na primeira pessoa do singular. Quem sabe: o que não me impressiona mais? Respostas possíveis: a vida, a família, a honestidade, a pureza, a saúde e talvez Deus. Por esse caminho, talvez fique mais fácil identificar respostas para a pergunta trend topic de agora. Será que a morte banal produzida por absoluta falta de amor à vida ainda nos impressiona? Ou, talvez, o respeito ao outro, ao modo de pensar diferente ainda nos impressiona? O princípio que me faz conseguir dialogar com o outro, ainda que ele pense, creia e aja de uma forma diferente da minha.
Deus na condição de um Ser interessado em manter um relacionamento com Suas criaturas ainda me impressiona? Ou também isso é artigo descartável como o é tanta coisa que temos em nossa casa e para as quais devotamos tempo, dinheiro e esforços passageiros?
As novas tragédias midiáticas vão abalar a sociedade por algum tempo e provavelmente sensibilizarão alguns que se mostrarão consternados até que voltem a se esquecer de tudo o que vai ser condenado ao ostracismo da história em breve.
Por outro lado, não é possível acreditar que tenhamos vindo ao mundo unicamente para vermos esses horrores diante de nós e termos de nos acostumar com isso. Prefiro uma das máximas do apóstolo Paulo, dirigindo-se aos cristãos de Filipos, no capítulo 3 e versículo 20 de sua carta onde deixou registrado que “mas a nossa pátria está nos céus, de onde esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”. É uma grande esperança. Morar em uma outra pátria longe dessas desgraças, desse conceito de que nada mais causa uma forte impressão na mente. As vítimas do atirador da Noruega e a cantora Amy Winehouse são apenas símbolos de uma sociedade que não se impressiona praticamente com nada e ninguém. Perde referenciais importantes e começa a se habituar a pensar que a vida também não tem muito valor.
 
Fonte:Felipe Lemos

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