quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ellen G. White e a prática do vegetarianismo




Considerando que em muitas ocasiões tem aflorado em nosso meio intensos debates acerca do uso da carne em nossa dieta, e esses debates ao mais das vezes tem estabelecido Ellen White como a "última palavra" em relação a esta questão, convém ler o escrito abaixo, que se encontra publicado no site oficial do Centro White, órgão da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Aborda duas questões: qual o ponto de equilibrio de Ellen White quanto à questão da carne como alimento e a base de nossa posição quanto à carne de porco. 

1. Ellen White ainda comeu carne após sua visão sobre a reforma de saúde em 1863?

Ellen White não afirmou que após sua visão sobre saúde em 1863 ela nunca mais comeu carne. Antes da visão, ela acreditava que "era dependente de uma dieta cárnea para ter energia". Por causa de sua frágil condição física, especialmente pela sua predisposição para desmaiar quando estava fraca e com tontura, ela pensava que a carne era "indispensável". De fato, naquela época ela era "uma grande comedora de carne"; a carne era seu "principal artigo de alimentação".

Mas ela obedecia à luz que ia tendo. Tirou a carne de sua "lista de compras" imediatamente, e esta não foi mais uma parte regular de sua dieta. Ela praticava os princípios gerais que ensinava aos outros, tais como aquele de que deve-se usar o melhor alimento disponível. Quando longe de casa, tanto viajando quanto acampando em condições precárias, décadas antes de serem inventadas as refeições de fácil preparo, encontrar uma dieta adequada era muitas vezes difícil. Nem sempre capaz de obter o melhor, por qualquer que fosse a razão, ela às vezes optou pelo bom - o melhor que podia obter naquelas circunstâncias.

Ellen White não era dogmática quanto ao comer carne. Em 1895 ela escreveu: "Nunca julguei ser meu dever dizer que ninguém deveria provar carne, sob quaisquer circunstâncias. Dizer isto... seria levar ao extremo a questão. Nunca senti ser dever meu fazer asserções arrasadoras. O que tenho dito, disse-o sob uma intuição do dever, mas tenho sido cautelosa em minhas afirmações, porque não queria dar ocasião para qualquer pessoa ser consciência para outro" - (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, pp. 462, 463).

Em tentativas modernas para entender a história, muito freqüentemente o passado é julgado pelo presente, na maioria das vezes de modo desintencional. As pessoas do passado devem ser julgadas no contexto das circunstâncias delas, não das nossas. Numa época em que não havia refrigeração, quando obter frutas e vegetais frescos dependia de onde se vivia e da época do ano, quando os substitutos para carne eram raramente obtidos, antes da introdução da manteiga de amendoim e dos cereais desidratados (em meados da década de 1890), em algumas ocasiões ou se comia carne ou não se comia nada. Hoje em dia, na maioria das vezes comer carne raramente é uma necessidade.

Enquanto estava na Austrália, chegou a ponto de banir "absolutamente a carne de minha mesa". Por um tempo, ela havia permitido que um pouco de carne fosse servida para os empregados e membros da família. Daquela época em diante (janeiro de 1894), foi entendido que "quer eu esteja em casa quer viajando, nada disso deve ser usado por minha família, ou vir à minha mesa" (ibid., p. 488). Muitas das declarações mais enérgicas de Ellen White contra a carne foram escritas depois de ela haver renovado seu compromisso de abstinência total em 1894.

As principais visões de Ellen White sobre saúde, em 1863 e 1865, abrangeram todos os aspectos da mensagem da reforma de saúde que ela enfatizou até a morte. As mudanças em certas ênfases ao longo dos anos somente refinaram esses princípios; não lhes acrescentaram nem subtraíram nada. À medida em que o tempo passa, mesmo os profetas devem tomar tempo para assimilar os princípios revelados - tempo para que a teoria se torne prática em sua própria vida. Ela constantemente defendia o princípio, tanto na prática quanto no ensino, de que todo aquele que é comprometido com a verdade mudará do ruim para o bom, do bom para o melhor, e do melhor para o ideal. Tal foi a sua experiência.

E o que dizer sobre sua aparente reversão na questão do comer carne de porco? Em 1858 ela escreveu para os Haskells (Irmão e Irmã A) sobre uma série de itens, repreendendo-os por insistirem que deveria ser feito um "teste" quanto a comer carne de porco: "Vi que suas idéias sobre a carne de porco não seriam prejudiciais se vocês as retivessem para si mesmos, mas, em seu julgamento e opinião, os irmãos têm feito dessa questão uma prova. ... Se Deus achar por bem que Seu povo se abstenha da carne de porco, Ele os convencerá a respeito. ... Se for dever da igreja abster-se da carne de porco, Deus o revelará a mais do que duas ou três pessoas. Ele ensinará a Sua igreja o dever dela" - (Testemunhos Para a Igreja , vol. 1, pp. 206, 207).

Na visão sobre a reforma de saúde de 6 de junho de 1863, foi revelada uma extensa lista de princípios de saúde. No ano seguinte ela publicou um capítulo de cinqüenta páginas intitulado "Saúde" no Spiritual Gifts , vol. 4. Em referência à carne suína, ela disse: "Deus nunca designou o porco para ser comido sob nenhuma circunstância" (p. 124), e em seus livros posteriores ela continuou a enfatizar as conseqüências prejudiciais do comer a carne de porco.

2. Como se explica esta mudança nos conceitos de Ellen White entre 1858 e 1863?
Em primeiro lugar, ela não havia recebido qualquer luz de Deus sobre a carne de porco antes de 1863. Sua visão em 1858 não a informou se era certo ou errado comer carne de porco. O que ela fez foi reprovar este irmão por criar divisão entre os adventistas ao fazer da questão uma prova naquela época. Em segundo lugar, ela deixou aberta a possibilidade de que se o consumo de carne de porco devesse ser descartada pelo povo de Deus, Ele iria, a Seu próprio tempo, "ensinar a Sua igreja o dever dela". Quando a visão realmente veio, quase cinco anos mais tarde, a igreja toda compreendeu claramente a questão e nunca mais houve divisão a respeito desta questão.

Adaptado de Herbert E. Douglass, Mensageira do Senhor: O ministério profético de Ellen G. White (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2001), pp. 157, 158, 312-319.

fonte: http://www.centrowhite.org.br/antigo/ellendoc-2a.htm#pra_veg