sexta-feira, 2 de setembro de 2011


“Rendam graças ao Senhor por Sua bondade e por Suas maravilhas para com os filhos dos homens!” Salmo 107:15


Na manhã do dia 10 de janeiro de 1948 o húngaro Marcel Sternberger entrou no trem habitual das 9h09, em Long Island, Nova York. De repente, decidiu visitar Laszlo Victor, um amigo húngaro que morava no Brooklyn e estava doente. Assim, no Parque Ozone, Sternberger trocou de metrô para ir ao Brooklyn, foi à casa de seu amigo e ficou lá até o meio da tarde. Depois tomou o metrô para seu escritório na Quinta Avenida, em Manhattan. A seguir, a incrível história de Marcel.


"O vagão estava lotado e não parecia haver a menor chance de eu me sentar. Mas quando entrei, um senhor sentado perto da porta levantou-se subitamente para sair e eu tomei seu assento.


Os traços do homem à minha esquerda me chamaram a atenção. Ele provavelmente beirava os 40 anos, e quando levantou o olhar, parecia haver em seus olhos uma expressão de dor. Ele lia um jornal húngaro e algo me compeliu a dizer-lhe em húngaro: “Espero que não se importe se eu der uma olhada no seu jornal.”


O homem pareceu surpreso por alguém falar com ele em sua língua nativa. Mas apenas respondeu educadamente: “Pode lê-lo agora. Terei tempo mais tarde.”


Durante a meia hora que durou a viagem à cidade, conversamos muito. Ele se chamava Bela Paskin. Era estudante de direito quando começou a II Guerra Mundial, e então os alemães o enviaram à Ucrânia. Foi capturado pelos russos, que o forçaram a trabalhar enterrando alemães mortos. Depois da guerra, ele andou centenas de quilômetros a pé até chegar a sua casa em Debrecen, uma grande cidade no leste da Hungria.


Quando foi ao apartamento onde antes moravam seus pais e irmãos, só encontrou estranhos morando lá. Foi então ao segundo andar, ao apartamento que antes era seu e de sua esposa. Também estava ocupado por estranhos. Ninguém ouvira falar de sua família. Ao sair, cheio de tristeza, um garoto correu até ele chamando: “Tio Paskin, tio Paskin!” A criança era filho de seus antigos vizinhos.


Ele foi à casa do garoto e conversou com seus pais, os quais lhe contaram que os nazistas haviam levado sua esposa e toda a família dele para Auschwitz, onde morreram. Paskin perdeu as esperanças.


Poucos dias mais tarde, triste demais para permanecer na Hungria, saiu novamente a pé, cruzando fronteira após fronteira até chegar a Paris. Conseguiu imigrar para os Estados Unidos apenas três meses antes de eu conhecê-lo.


Durante toda a conversa, parecia haver algo de familiar nesta história. Uma jovem senhora que eu conhecera recentemente na casa de amigos também era de Debrecen. Ela estivera em Auschwitz e de lá havia sido transferida para trabalhar em uma fábrica de munição.


Seus parentes morreram todos nas câmaras de gás. Mais tarde, foi liberta pelos americanos e veio aos Estados Unidos no primeiro navio de imigrantes, em 1946.


A história dela me comoveu tanto que resolvi anotar seu endereço e telefone, com o intuito de convidá-la para conhecer minha família, e assim ajudar a aliviar o terrível vazio de sua vida.


Parecia impossível haver qualquer conexão entre essas duas pessoas, mas, ao me aproximar de minha estação, folheei ansioso minha agenda de endereços. Então lhe perguntei se o nome de sua esposa era Marya.


Ele empalideceu. “Era! Como sabe?”


Agarrei-o pelo braço, descemos na estação seguinte e procuramos um telefone. Disquei o número dela, o telefone chamou várias vezes e, por fim, Marya Paskin atendeu.


Apresentei-me e lhe pedi para descrever seu marido. Ela o descreveu e quando lhe perguntei se já havia morado em Debrecen, ela me deu o endereço. Pedi-lhe que aguardasse na linha, me virei para Paskin e perguntei: “Você e sua esposa moravam em tal e tal rua?”


Ele tremia todo e disse que sim. “Tente se manter calmo, pois um milagre está para acontecer com você. Pegue o telefone e fale com sua esposa!”


Seus olhos brilhavam em lágrimas. Pegou o telefone, ouviu por um momento a voz da esposa, e então disse: “Aqui é o Bela! Aqui é o Bela!” e começou a balbuciar histérico.


Peguei o telefone de suas mãos e disse a Marya: “Fique onde está. Estou enviando seu marido a você.”


Bela chorava como um bebê e não parava de repetir: “É minha esposa. Vou ver minha esposa!” Pensei em acompanhá-lo, mas depois achei que não seria um momento próprio para a presença de um desconhecido. Coloquei-o num táxi, dei o endereço de Marya ao motorista, paguei a corrida e me despedi.


O encontro de Bela Paskin com a esposa foi um momento tão comovente que eles não conseguiam se lembrar do que aconteceu. Mais tarde, Marya me disse que quando desliguei o telefone, ela foi se olhar no espelho para ver se os seus cabelos já estavam grisalhos. E então um táxi parou à porta de sua casa e seu marido veio em sua direção.


Teria sido tudo isso uma incrível sucessão de acasos e coincidências, ou Deus interferiu para que esse casal se reencontrasse"


Paul Deutschman (Extraído do livro “Com a Eternidade no Coração” de Rubem M. Scheffel)

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