quinta-feira, 16 de junho de 2011

Vamos falar de cinema...

 Cinema é algo fascinante. É a melhor forma de contar uma história.
Os sons, as imagens, fazem qualquer coisa ganhar vida. E quando estamos em uma sala de cinema, sentimos como se cada uma das personagens tivessem vida própria.
Eu acho fascinante como todos nós, de uma forma ou outra, buscamos ser os protagonistas de nossos próprias histórias.
Cada um tem seu gênero favorito. Uns vivem um drama, outros uma comédia, alguns um romance, ainda tem aqueles que preferem um filme de terror. Mas, a diversidade geralmente acaba ai.
 Porque todos tentam viver o mesmo papel - o papel principal.
E o engraçado é que não queremos ser protagonistas que vivem histórias como as da era de ouro do cinema. Não queremos ser Rick Blaine (Casablanca) que abre mão do objeto de seu desejo em favor de um amor sacrificial. Também, não queremos ser Holly Golightly (Bonequinha de Luxo) que desiste dos sonhos de grandeza, vazios e baratos, e por fim decide amar e se deixar ser amada. Não queremos ser Elizabeth ou Mr. Darcy (Orgulho e Preconceito) que abrem mão do preconceito e do orgulho como armas para ferir seus amados, preferindo o dano próprio e a perda.
Não queremos nenhum desses papeis.
Nós queremos os grandes títulos, os 'blockbusters'.
 Nós queremos ser Bruna Surfistinha (O Doce Veneno do Escorpião) que de menina pobre, subiu na vida e conquistou tudo que queria, mesmo com alto custo, vendendo não só o corpo, mas a alma e o caráter também. Ou, queremos ser um Jack Sparrow (Piratas do Caribe), um anti-herói, bêbado, egoísta, desleal, infiel, sem qualquer senso de moralidade. Alguns ainda querem ser com Benjamin Button (O Curioso Caso de Benjamin Button), e passam a vida lutando contra o tempo, e ao invés de crescerem em sabedoria e experiência, buscam a fonte da eterna juventude. Ainda tem aqueles que preferem ser como Bella Swan (Saga Crepúsculo) uma mocinha bobinha, que só abria a boca para gerar pérolas da estupidez. Como se não bastasse, a mocinha se apaixona por uma criatura das trevas, fria e sem vida, e implora para que ele consuma toda sua vida.
 Qual é o seu gênero de filme? Qual é o seu tipo de personagem?
Será que você está tentando ser seu próprio protagonista?
Pra quem tenta ser protagonista de sua própria história, só existem dois resultados possíveis: ou a frustração, porque você percebe que não vai contar lá uma grande história; ou a ilusão, porque você acha que é o mocinho perfeito pra sua própria história.
Eu não te conheço, mas independente de quem seja, posso afirmar com absoluta certeza que você não irá interpretar um mocinho convincente.
Eu sei que você deve estar lembrando de meia dúzia de frases chavão agora, bem no estilo de Oprah Winfrey, ou aqueles livros baratos de auto ajuda, como: "Se um dia alguém disser que você não fez algo importante, não ligue, pois o importante já foi feito: VOCÊ", ou "Tudo pode ser, se quiser será. O sonho sempre vem pra quem sonhar." (Xuxa), ou ainda "Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela." (essa última é do Paulo Coelho).
Fazendo a análise de todas elas eu responderia: o caminho mais rápido para a queda é a exaltação do próprio ego, e que os otimistas são muito mal informados.
Se você for honesto, irá concordar comigo. Irá perceber que nós não somos interessantes o suficiente, ou bonitos o suficiente, ou bons e virtuosos o suficiente, nem ao menos capazes o suficiente para contar uma boa história. Se assumirmos o papel de protagonista iremos, indubitavelmente, contar uma história medíocre, com enredo previsível e nada construtivo.
Acha que eu sou pessimista? Imagina! Eu apenas conheço as limitações do meu coração e me dei conta que os coadjuvantes têm melhores chances. O coadjuvante não precisa alcançar um padrão muito alto em relação a nada. Não sente a pressão e a necessidade da perfeição. Ele é quem ajuda o protagonista acertar o 'timing' da piada, e ele é o braço direito do herói, ele é quem cai repetidamente em problemas e precisa ser salvo (e será). Mas, não dá para fazer de qualquer um, o protagonista da nossa história. Tem que ser o tipo certo de protagonista, de acordo com o gênero e com a história.
Na minha história, eu preferiria interpretar o soldado de um líder destemido, um rei leal ao seu amor e que em cada passo caminha para o auto sacrifício (Leonidas, do filme 300). Seria honroso interpretar e viver uma história assim, ao lado de um rei assim. Ficaria contente em interpretar uma criança inexperiente e dependente que foi chamada, a um mundo mágico, para ajudar a lutar contra uma terrível bruxa malvada. Lutando ao lado de um rei nobre e forte (Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia do filme As Crônicas de Nárnia) contra a frieza e a morte. Ou ainda, estar lado a lado com amigos fiéis lutando em favor de um rei, de um reino e contra o domínio da maldade (Frodo de O Senhor dos Anéis).
Esse é o meu papel: coadjuvante. Eu tenho um protagonista. Ele é um rei, um leão, um Senhor. Ele é o único justo o suficiente, bom e virtuoso o suficiente, belo e interessante o suficiente. Ele é o perfeito protagonista. Ele é o herói. Ele interpretou perfeitamente seu papel e fez história. Não existe nada mais honroso do que ser um coadjuvante na história dEle.
Esse é o meu papel. A única ambição é interpretá-lo bem. Não preciso de um Oscar ou um Golden Globe, apenas um “Bem fizeste, servo bom e fiel!” do meu protagonista, me basta.
 
Beatriz Rustiguel da Silva – Hermenêutica Particular

"É necessário que Ele cresça e que eu diminua." (João 3:30)

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