A música gospel se tornou a espinha dorsal de uma indústria cujos altos cifrões de vendagem e baixos números de pirataria chamaram a atenção da indústria musical secular. Assim, não espanta o tratamento especial da Sony cedido aos artistas gospel, com direito a organização da Sony Gospel Music, gerenciada por um respeitado especialista da área, Maurício Soares.
O potencial consumidor do mercado musical evangélico chamou a atenção da Rede Globo, a partir do seu braço musical, a Som Livre. O resultado foi a produção e exibição do Festival Promessas, que contou com os nomes mais conhecidos do gospel nacional.
Então, as desavenças históricas entre a Globo e os evangélicos (leia-se “entre Globo e Edir Macedo”, leia-se, Globo e Record) são coisa do passado? Não se engane. Nessa diplomacia religiosa há muito de disputa comercial. As TVs vivem de audiência e nada mais natural que a Globo veja os evangélicos não como um campo missionário, mas como um campo pronto para a ceifa de lucros e dividendos.
E o que faz o cristão quando se vê como um componente do jogo de mercado? Dá as costas e vai procurar sua turma? Dá uma lição nas víboras capitalistas e vai vender geleia real de porta em porta? Aproveita a chance de apresentar sua mensagem na maior rede de TV do país?
Mas, qual a mensagem apresentada pelo gospel na Globo? Pergunto isso porque, apesar de Ana Paula Valadão recitar João 3:16, falar da cruz e cantar do Apocalipse como algo a não temer, o que se assistiu em boa parte do programa foram alguns cantores falando “derrama, Shekinah”, “tira o pé do chão, igreja!”, “declare para o Brasil inteiro ouvir”, “levante as mãos que o helicóptero está filmando”.
Para a Globo é bom: o povo adora, ela explora e ainda tira aquela pecha de “emissora do capeta” que algumas igrejas lhe davam. Para o gospel é bom: o cantor vende e ora, o fiel compra e chora; mas nunca é demais lembrar que há vozes honestas e corações sinceros.
E para o evangelho? Há o cristão que vê a mão bem visível do mercado do entretenimento tomando para si a música destinada ao louvor e adoração a Deus. Talvez porque, quando a esmola da Globo é demais, o crente desconfia. E há o cristão que acredita que o evangelho está abrindo portas para chegar ao conhecimento de muito mais gente.
Mas, qual evangelho? O do pula-pula e do oba-oba ou o do chamado à reflexão? O do evangelho de mercado ou o do evangelho apesar do mercado? O do culto à canção ou o do culto com pregação? O do sucesso ou o do serviço? São duas faces da mesma moeda, ou do mesmo evangelho?
A Globo quer audiência e uma fatia do lucrativo mercado musical evangélico. Ponto. Então, caro cantor gospel, vá lá, cante e dê sua mensagem. Só não dá pra dizer, caro cantor, que agora o Brasil é de Jesus, porque não é bem assim que as coisas acontecem.
"Gospel" quer dizer também "evangelho". Os mais empolgados cantaram uma importante vitória desse "gospel" evangelizador. Gospel afirmou-se também como sinônimo de uma produção musical industrial em série. Como embalagem, os mais cautelosos desconfiam que Globo e gospel tem tudo a ver; enquanto mensagem, eles creem que Globo e evangelho não tem nada a ver.
Enfim, a suma de tudo o que ouviste pela voz do gospel na Globo é esta: quem é evangélico e gosta do estilo, assistiu e se emocionou; quem não é evangélico, deve ter mudado de canal; e quem é evangélico e não gosta do estilo, ficou constrangido. Mas, gostando ou não do estilo, deixemos o povo cantar. “Se for de Deus, prosperará; se não for de Deus, ...”
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Estão dizendo que o idealizador do programa foi o pastor Silas Malafaia, que teria “profetizado” que um dia estaria falando na TV Globo. Essa informação levou o pastor Vicente Sabbatino a declarar: “O profeta de nossa geração disse que um dia estaríamos na Globo. O Festival Promessas é apenas o primeiro ato de uma sinfonia de vitória”. Cada geração tem o profeta que merece? Bem, parece que alguns estão bem seguros de que só Jeová é Deus e Malafaia é seu profeta.
Fonte:Nota na Pauta
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