Frank Westphal foi o primeiro pastor adventista do sétimo dia a pisar em solo brasileiro. Em fevereiro de 1895, ele desembarcou no Rio de Janeiro com uma missão muito especial: batizar os primeiros conversos em nosso país. Primeiramente, ele se dirigiu ao interior do Estado de São Paulo. No rio Piracicaba, em abril de 1895, Westphal batizou Guilherme Stein Jr. Depois, o pastor se dirigiu a Santa Catarina, para batizar em Brusque e Gaspar Alto os primeiros conversos ao adventismo no Brasil, entre eles o pioneiro Guilherme Belz, convencido da santidade do sábado em 1890. Westphal ficou cinco meses trabalhando no Brasil, mas, finalmente, chegou o momento de voltar para sua família, que na época residia na Argentina. Quando chegou em casa, a esposa e o filho de quatro anos foram recebê-lo à porta, mas a filhinha Helen não apareceu. A Sra. Westphal, com o olhar triste, contou ao esposo que a menina havia falecido duas semanas antes. Muitas cartas foram enviadas ao Brasil, relatando a situação de Helen, mas nenhuma delas chegou às mãos do pastor.
O texto a seguir é um dos relatos missionários mais emocionantes que já li. Foi escrito por Westphal e o reproduzi em meu livro A Chegada do Adventismo ao Brasil: “À medida em que ela me contou os detalhes acerca da batalha perdida para a morte, nossos corações sofreram, mesmo que não desejássemos reclamar. Além do mais, essa triste experiência abriu mais ainda nossa compreensão do maravilhoso amor de Deus. Percebemos mais profundamente quão grande foi o amor do Pai Celeste em ter dado Seu único Filho para morrer uma morte cruel, numa terra estranha, distante de Seu lar celestial e de todos aqueles de quem recebia amor e simpatia. Isto nos levou a consagrar nossas vidas uma vez mais a Deus e à Sua obra, e trabalhar fielmente, para que venha logo o dia em que o Senhor aparecerá e devolverá nossa pequena filha aos braços de sua mãe.” Que maturidade espiritual!
Daniel, no alto de seus mais de 80 anos de idade, também poderia ter reclamado do que a vida lhe aprontou. Graças a uma trama diabólica arquitetada por seus invejosos colegas da corte medo-persa (sempre eles), acabou sendo condenado à cova dos leões. “[Daniel] era fiel, e não se achava nele nenhum vício nem culpa” (Dn 6:4). Mas quem disse que isso é garantia de ausência de problemas? A dor, as provações e as lutas batem à porta de todos neste planeta; o que os diferencia é a atitude em face da tragédia.
Manipulado pelos ministros, governadores e prefeitos, o rei Dario baixou um decreto segundo o qual pelo período de 30 dias todo mundo deveria orar apenas ao rei, sob pena de, caso desobedecesse, ser jogado aos leões. Claro que o monarca gostou daquilo. A vaidade falou alto e ele assinou a lei; e nem se lembrou do ancião judeu a quem aprendera a respeitar – tanto que inicialmente pensou até em colocá-lo como a mais alta autoridade no reino (v. 3), justamente o que motivou o plano vingativo.
Em lugar de se desesperar ou reclamar, Daniel manteve a serenidade e fez exatamente o que fazia todos os dias: “Entrou em sua casa, no seu quarto em cima, onde estavam abertas as janelas para o lado de Jerusalém, e três vezes no dia se punha de joelhos, orava e dava graças, diante do seu Deus, como também antes costumava fazer” (v. 10, grifo acrescentado). Dava graças?! Que maturidade espiritual!
“Em tempos de provação e tristeza, os filhos de Deus devem ser precisamente o que eram quando suas perspectivas brilhavam de esperança e estavam cercados de tudo o que poderiam desejar” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 545).
Daniel suportou a prova porque tinha por hábito orar três vezes ao dia (e, como já vimos, ele também era estudioso das Escrituras). Se ele tivesse deixado para orar somente no momento do aperto, como se Deus fosse um bombeiro a quem Se invoca apenas para apagar fogos, certamente não teria resistido à pressão.
Quando o rei Dario entendeu o que estava acontecendo, era tarde demais. As leis medo-persas não podiam ser revogadas, nem por ele. Daniel teria que ir para a cova. “O teu Deus, a quem tu continuamente serves, Ele te livrará”, disse Dario (v. 16). O soberano passou a noite em claro e em jejum (v. 18). Bem, parece que ele teve uma noite pior que a de Daniel...
Com os pés na cova, Daniel tinha os olhos no Céu. Ele sabia que “o Céu está mais próximo daqueles que sofrem por amor da justiça” (Profetas e Reis, p. 545). Ficou tranquilo, pois tinha certeza de que o Deus em quem confiava guardava-lhe a vida. Ao longo de oito décadas, mantivera relacionamento íntimo com seu Criador e sabia que podia depositar total confiança nEle.
De manhã cedo, o rei correu para a cova e gritou: “Daniel, servo do Deus vivo! Será que o seu Deus, a quem você serve com tanta dedicação, conseguiu salvá-lo dos leões?” (v. 20, NTLH). Na voz de Daniel não havia angústia, como na do rei: “O meu Deus mandou o Seu anjo, e fechou a boca dos leões, para que não me fizessem dano” (v. 22). O rei passou a noite em claro. Daniel pode ter dormido encostado na juba de um leão!
Por vezes, os cristãos terão que passar pelo “vale da sombra da morte” (Sl 23:4), mas uma coisa ninguém pode tirar deles: a paz e a confiança. Pode ser que sejamos livrados dos leões, mas noutras ocasiões, por causa de nossa fidelidade a Deus e aos Seus mandamentos, poderemos até perder o emprego, um ano de faculdade ou até a vida. O que importa é ser fiel como Daniel, Westphal e tantos outros. O resultado poderá ser um testemunho como o dado pelo rei Dario, após tirar Daniel da cova:
“[O Deus de Daniel] é o Deus vivo, que vive para sempre. O Seu reino nunca será destruído; o Seu poder nunca terá fim. Ele socorre e salva; no céu e na terra, Ele faz milagres e maravilhas. Foi Ele quem salvou Daniel, livrando-o das garras dos leões” (NTLH).
E Ele quer salvar você do “leão que ruge, procurando alguém para devorar” (1Pe 5:8, NTLH). Ande com Jesus e Ele fechará também a boca desse leão.
(Michelson Borges, jornalista e mestre em teologia)
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